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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Uma conversa sobre cultura...

Cultura. Vou lhes falar um pouco sobre cultura. Sobre quem vive de cultura, ou pelo menos tenta viver de cultura. Vou falar sobre pessoas que em algum momento de suas vidas ouviram uma música, assistiram uma dança, contemplaram uma pintura, uma escultura, foram a uma peça de teatro, ouviram uma poesia ou assistiram um filme. Pessoas que em algum momento de suas vidas descobriram a importância do som, do movimento, da cor, da forma, da representação, da palavra, e da união de todos esses elementos. Vou lhes falar de pessoas que foram mudadas por essas linguagens, que evoluíram para melhor, mas que não pararam por aí. Pessoas que sentiram a obrigação de compartilhar isso com o próximo para poder ver toda sua comunidade crescendo, evoluindo, questionando e mudando sua realidade. Vou falar de pessoas que tiveram seus sonhos arruinados pelo descaso do governo com seus projetos. Falar de pessoas que esbarraram em burocracia. De pessoas novas demais para serem ouvidas. Falar de pessoas que tomaram a iniciativa de levar seus projetos adiante pelo seu esforço próprio e muito sacrifício. De pessoas que foram vítimas do ego de pessoas que querem dividir para conquistar. De pessoas que são discriminadas por seu trabalho envolver um nariz vermelho e sapatos gigantes. De pessoas que tem que ver outras pessoas de fora sendo pagas e valorizadas para fazerem o mesmo que elas. De pessoas que tiveram que desistir para poder trabalhar em algo que garanta seu sustento, mesmo que isso a torne uma máquina sem sentimentos. Pessoas que foram enganadas por golpistas, e que por isso perderam dinheiro. De pessoas que hoje estão com problemas na faculdade por terem usado o dinheiro da mensalidade para fazer seu projeto cultural acontecer, e ainda ter que ouvir que não passava de um grupo com interesses políticos. Pessoas que tiveram seus projetos boicotados por aqueles que temem não poder mais se aproveitar de um povo sem conhecimento. Que tiveram seu trabalho desdenhado e humilhado pelos assessores de campanha. Irei falar de gente que teve que entrar, mesmo que contra vontade, em um processo político para poder se defender de pessoas que ameaçavam todas as conquistas provenientes desse trabalho. De gente que escolheu o mesmo lado que o inimigo, enfrentando as consequências disso, para poder defender seus projetos e sua comunidade. Pessoas que foram traídas por aqueles que um dia apoiaram apenas por terem buscado ajuda em outros lugares. Vou falar de pessoas que querem uma oportunidade. Pessoas que sonham ver o seu trabalho interferindo e mudando a vida do povo. E que por mais que seja tão difícil fazer acontecer, ficam felizes ao ver seus projetos chegando ao povo. De pessoas que precisam se alimentar. De pessoas que tem contas para pagar. De pessoas que estão cansadas de promessas, de tapinhas nas costas. Pessoas que estão cansadas de ir atrás de pessoas que são pagas para explicarem por que não vão apoiar seus projetos. De pessoas que cansaram de ver sua proposta de parceria virar uma troca de favores desigual. Mas eu não vou falar dessas pessoas aqui. Vou falar delas e uma música, em uma dança, em uma pintura, em uma escultura, em uma peça de teatro, em uma poesia, em um filme. Para que talvez eu possa tocar alguém, fazer esse alguém mudar, evoluir e sentir a necessidade de compartilhar isso. Mas espero que, quem quer que seja essa pessoa, tenha condições melhores para levar essa mensagem. É por isso que eu luto. Para que meus filhos e seus filhos vivam em uma cidade melhor.

Emanuel Sodré